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Page de couverture de 11 de Novembro de 1975: o nascimento de um país

11 de Novembro de 1975: o nascimento de um país

11 de Novembro de 1975: o nascimento de um país

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Na noite de 11 de Novembro de 1975, Agostinho Neto proclama em Luanda a independência de Angola, pondo fim a cinco séculos de domínio português. O país nasce dividido: FNLA e UNITA também declaram governos próprios. Marcolino Moco recorda “três independências”. Entre euforia e medo, começa a guerra civil. Cinquenta anos depois, activistas e antigos combatentes questionam se a promessa de uma verdadeira independência foi cumprida. Na noite de 11 de Novembro de 1975, Luanda vive um misto de euforia e incerteza. No Palácio do Povo, o médico e poeta Agostinho Neto, líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), ergue a voz perante uma multidão cansada, mas expectante. Depois de cinco séculos de dominação portuguesa e catorze anos de guerra colonial, proclama: Proclamamos solenemente a independência da República Popular de Angola. Do lado de fora, uma multidão de milhares de pessoas assiste, emocionada, à bandeira vermelha, preta e dourada subir lentamente no mastro. Soldados cubanos, diplomatas estrangeiros, mulheres e crianças olham com lágrimas nos olhos. Nas ruas, ouvem-se buzinas, batuques e gritos de “Viva Angola!”. Contudo, a mesma noite que em Luanda é celebrada como libertação, marca também o início de uma nova divisão. No norte, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), liderada por Holden Roberto, proclama o nascimento de uma república própria. No centro, nas cidades do Huambo e do Bié, Jonas Savimbi, à frente da UNITA, anuncia igualmente a independência. Angola nasce, mas em guerra consigo própria. “Foi uma revelação amarga, porque foram proclamadas três independências”, recorda Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro e académico, que em 1975 tinha 22 anos e militava no MPLA. “Eu estava no Huambo, era do MPLA, e a UNITA proclamou lá a sua independência. O bilhete de identidade português deixou de ter valor e o bilhete de identidade passou a ser o cartão da UNITA. Como eu não tinha esse cartão, fiquei encurralado, fui logo preso.” Marcolino Moco recorda ter sido libertado “graças à influência do meu pai, uma grande autoridade tradicional”, mas pouco depois voltou a ser detido. “Levaram-me outra vez, já para me matarem mesmo. Só que essas coisas acontecem... culpam-se os líderes, mas são coisas que nascem espontaneamente.” O jovem militante viria a escapar à morte pouco antes da chegada das tropas cubanas ao Huambo. “Fui levado para a cadeia uns dias antes da libertação do Huambo pelas tropas do MPLA, apoiadas por Cuba. Eu era militante do MPLA no local errado”, conta, sublinhando a violência da época. Para Marcolino Moco, o país nasceu dividido desde o princípio. “Quando começou a guerra, Angola ficou dividida em três. O MPLA controlava Luanda com apoio de Cuba e da União Soviética; a FNLA e a UNITA tinham o Zaire, os Estados Unidos e a África do Sul do seu lado. Era a Guerra Fria a entrar em África.” O académico aponta também responsabilidades externas. “Os Estados Unidos foram renitentes em reconhecer a independência. O chamado mundo ocidental teve dificuldade em aceitar uma independência unilateral, não proclamada no âmbito de Alvor”, afirma. “Os Acordos de Alvor partiram da ideia utópica de que tudo se resolveria com eleições, sem perceber que aqueles três movimentos de libertação não eram partidos políticos. Eram estruturas étnico-regionais, sem um projecto nacional comum.” Do outro lado do Atlântico, o mundo observava: Em Havana, Fidel Castro garantia que “os soldados cubanos permanecerão em Angola enquanto for necessário para defender a liberdade do povo angolano”. Em Pretória, o regime do Apartheid reagia com inquietação, temendo o nascimento de um Estado aliado do Congresso Nacional Africano (ANC). Em Lisboa, o governo saído da Revolução dos Cravos cumpria os Acordos de Alvor, mas a retirada portuguesa foi apressada e desordenada. “A transição não se fez como devia”, observa Marcolino Moco. “As Nações Unidas, no artigo 73 da sua Carta, previam uma passagem gradual, que permitisse preparar as elites locais para governar. Mas a União Soviética forçou a aceleração, para multiplicar aliados nas Nações Unidas. O resultado foi que os países africanos ficaram independentes sem estar preparados, e Angola foi um dos exemplos mais trágicos disso.” A imprensa internacional descrevia o novo país com preocupação: O Le Monde titulava “Angola, nova República nascida em guerra”, enquanto The Guardian escrevia “Independência e conflito: Angola divide-se ao nascer”. Para muitos angolanos, a independência foi um dia de alegria contida. Álvaro Chicalanga Daniel, actual secretário da UNITA, tinha apenas sete anos na altura. “Lembro-me que era festa. Todo o mundo estava eufórico, e a perspectiva era de que teríamos um país melhor, um país onde nós, os angolanos, seríamos donos do nosso próprio destino....
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