Épisodes

  • Como enviados de Trump à Europa se mobilizam para resgatar origens 'brancas e cristãs' do continente
    Dec 5 2025

    O movimento americano Make America Great Again (MAGA) atua muito além das fronteiras dos Estados Unidos – e tem intensificado a rede de influências na Europa. Enviados do presidente Donald Trump à Europa trabalham para resgatar o modelo de sociedade “branca e cristã” no continente.

    A revista francesa L’Express desta semana publica uma série de reportagens sobre o quanto a presença da rede MAGA se acelerou nos países mais poderosos da União Europeia, de olho nas futuras eleições. A corrida presidencial francesa, por exemplo, tem o partido de extrema direita Reunião Nacional mais próximo do que nunca de uma vitória, em 2027.

    Para o MAGA americano, a Europa representa uma etapa fundamental da “guerra de civilizações” encampada nos Estados Unidos, aponta a revista. No topo dessa mobilização, estão sete aliados de Trump que se instalaram no continente ou têm repetido viagens às capitais mais estratégicas, como Berlim, Bruxelas, Londres ou Paris.

    Enviados de Trump

    O embaixador americano na capital francesa, Charles Kushner, é um deles. O jornalista Rod Dreher, um dos mentores do movimento e íntimo do vice de Trump, J.D. Vance, é outro. Ele mudou-se em 2022 para a Hungria e tem viajado pelos países do bloco para impulsionar as candidaturas dos nomes mais proeminentes da extrema direita europeia.

    Em Bruxelas, o embaixador americano junto à União Europeia, Andrew Puzder, tem servido para além dos interesses dos Estados Unidos no bloco: ele participa do movimento político que prega o nacionalismo e o reforço das fronteiras, aponta L’Express.

    Além disso, ONGs cristãs, fundações, think tanks e escritórios de advocacia favoráveis às causas ultraconservadoras foram mobilizados. O resultado é que, “sob pressão americanas, diversos projetos de lei foram adiados ou enterrados” no bloco, como o recente projeto europeu de enquadramento do uso da inteligência artificial, indica a publicação. “O combate final do MAGA é convencer as pessoas além da extrema direita, romper o cordão sanitário” dos partidos extremistas, constata uma das reportagens.

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  • Como a Inteligência Artificial está redefinindo relações de poder e economia no século 21
    Nov 29 2025

    A imprensa semanal francesa trata sobre os variados efeitos da Inteligência Artificial (IA) sobre a sociedade, a economia, a política e a arte.

    Adotando uma perspectiva política e social, a revista Nouvel Obs destaca os riscos para a Wikipédia, com a criação de uma concorrente, a Grokipedia, alimentada por Inteligência Artificial e lançada por Elon Musk.

    O objetivo parece ser distorcer a realidade, como no caso do aquecimento global, que é tratado como uma "teoria". A revista francesa critica essa ofensiva tecnológica por desprezar a deliberação, o respeito aos fatos e o voluntariado, pilares fundamentais da Wikipédia.

    Sob o ponto de vista econômico, a revista examina as consequências da IA no e-commerce, com assistentes como o ChatGPT ou o Perplexity oferecendo recomendações adaptadas, ameaçando e competindo com grandes empresas como Amazon ou Zalando.

    IA é novo petróleo

    No plano geopolítico, a Nouvel Obs se concentra no Oriente Médio, com países como os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita vendo a IA como um novo "petróleo", investindo bilhões de dólares para fortalecer sua soberania digital por meio do controle de dados e da revitalização dos setores estratégicos, como a defesa ou a cibersegurança.

    A revista Le Point discute a IA enquanto motor econômico, ferramenta cultural e tema controverso na política. Em termos econômicos, o texto menciona o posicionamento de algumas das big techs como Meta e Google para se apropriar do crescimento da IA.

    Em termos culturais, aponta o uso da IA na arqueologia, para ajudar na reconstrução dos hinos babilônicos e dos afrescos de Pompeia, entre outros exemplos.

    Na política, cita a IA, em nível local, como aconteceu na candidatura de Virginie Joron (RN), que utilizou imagens geradas por IA para ilustrar a sua campanha em Estrasburgo, no leste da França.

    Finalmente, L'Express concentra seu ponto de vista no impacto econômico da IA no mercado de trabalho.

    O especialista James Pethokoukis, em entrevista à L'Express, contesta as previsões de um "banho de sangue" do mercado de trabalho, argumentando que, apesar da automação, novas tecnologias tendem a criar mais empregos do que a eliminar.

    Ele ataca, ainda, a proposta de criação de uma renda universal básica e defende que os trabalhadores "devem se adaptar" ao novo mercado.

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  • Ciência e energia são a chave para o futuro, mas com um preço a pagar, analisam revistas francesas
    Nov 22 2025

    A ciência como motor para os desafios do futuro e o controle da energia como fator de desigualdade social são alguns dos temas abordados pela imprensa semanal francesa.

    O fórum "Futurapolis Planète 2025", organizado pela revista Le Point, destacou o papel central da ciência na resposta aos desafios de amanhã. Durante o evento, ficou claro que, diante das crises, a ciência não é pano de fundo, mas sim um fio condutor, e que o conhecimento deve estar no centro da tomada de decisões públicas.

    A discussão sobre energia evidenciou a necessidade de repensar a capacidade das redes para absorver o aumento da demanda resultante de aparelhos cada vez mais dependentes da eletricidade, da chegada dos veículos elétricos e da exigência de supercomputadores para a Inteligência Artificial.

    O uso crescente de sistemas algorítmicos também gera um “custo invisível” relacionado à água: grandes quantidades são utilizadas para o resfriamento de data centers.

    Energia e domínio

    A questão do controle da energia e sua ligação intrínseca ao poder é o foco do economista Lucas Chancel em seu livro Énergie et inégalités (Energia e desigualdades, em português), analisado pela revista Nouvel Obs.

    Chancel, que codirige o laboratório sobre desigualdades globais da Paris School of Economics, argumenta que a energia está no centro dos interesses das sociedades desde os primeiros homens na Terra.

    Historicamente, o progresso técnico — com o uso da máquina a vapor e dos moinhos — permitiu economizar força física e liberar tempo para os humanos. Essa energia, que concede poder (em inglês, power significa ambos), é, simultaneamente, um meio de emancipação e um instrumento de alienação e dominação.

    Desde o período neolítico, o excedente calórico foi apropriado por minorias e utilizado como “vetor de dominação”. O desafio central, portanto, reside na propriedade e no controle de quem detém a energia.

    O autor mostra que a história está repleta de intervenções públicas bem-sucedidas — como a nacionalização do setor na França do pós-guerra ou as cooperativas nos Estados Unidos — que provam não existir uma “lei natural” conduzindo à oligopolização do setor, e que o voluntarismo do poder público é fundamental.

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  • Escritor franco-argelino é libertado na Argélia e acolhido na Alemanha após um ano de prisão
    Nov 17 2025

    Depois de um ano preso na Argélia, o escritor franco-argelino Boualem Sansal foi liberado e transferido, na última semana, para a Alemanha, onde recebe cuidados médicos. A libertação, anunciada pelo governo argelino no dia 12 de novembro, aconteceu após a intervenção do presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, que disse “expressar profunda gratidão (ao escritor) pelos serviços prestados ao país”.

    As revistas francesas desta semana detalharam o caso, que colocou em xeque o governo da França.

    Com uma reportagem de capa, a revista L’Express destacou, na manchete, que Boualem Sansal era “o prisioneiro de Argel” e detalhou as negociações diplomáticas realizadas ao longo do último ano. Num dos títulos da matéria, o semanário foi bastante crítico, afirmando que a Argélia estava manipulando a França há um ano. “Por várias vezes, o Eliseu acreditou na libertação próxima do escritor, refém do regime de Argel”, destacou a publicação, dizendo que os argelinos pareciam brincar com “os nervos” dos franceses.

    Já a revista Nouvel Obs afirmou que Sansal, de 81 anos, nunca parou de denunciar uma tendência totalitária do governo da Argélia. Para a publicação, o escritor enfrentou a prisão com uma coragem inabalável.

    A reportagem lembrou ainda que o autor de livros como 2084: o fim do mundo e A aldeia da Alemanha, explora, em suas obras, o totalitarismo, como o nazismo do passado e o islamismo dos dias de hoje.

    A prisão

    A revista L’Express destaca que, no ano passado, muitos amigos estavam preocupados com a ida de Sansal, que acabara de obter nacionalidade francesa, à Argélia. Eles se preocupavam especialmente devido à hostilidade de Argel visando escritores críticos do governo. Ele foi preso no aeroporto da capital argelina no dia 16 de novembro de 2024, com a embaixada da França sendo informada somente no dia 19 daquele mês.

    Para Nouvel Obs, há muitas hipóteses que tentam explicar sua prisão. Alguns opositores do regime argelino dizem que o governo queria ouvir Sansal antes da sua partida definitiva para a França, já que ele conheceria muitos dissidentes, diplomatas e figuras consideradas por Argel como hostis.

    A libertação do escritor põe fim à preocupação e revolta de amigos e admiradores de Boualem Sansal, mas mantém a já delicada relação entre a França e a Argélia.

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  • Início da COP30 evidencia nova disputa geopolítica no contexto da transição energética
    Nov 8 2025

    Enquanto a COP30 começa nesta segunda-feira (10) no Brasil, com o objetivo de discutir medidas e compromissos para limitar o aumento médio da temperatura do planeta a 1,5 °C, revistas semanais francesas destacam uma realidade inquietante: o mundo continua mais dependente do petróleo do que nunca.

    “Mas até quando?”, questiona a L'Express. Já a revista Le Nouvel Obs desta semana discute o papel da Europa, dez anos após o Acordo de Paris, no momento em que Estados Unidos e China emergem como impérios energéticos.

    De um lado a América pró-petróleo de Trump, do outro o “Estado elétrico” chinês, caracteriza Le Nouvel Obs. Em meio a tantos debates sobre o futuro energético mundial, a imprensa semanal francesa indica a eclosão de uma profunda tensão entre compromissos climáticos e interesses geopolíticos.

    L’Express aponta que enquanto a Agência Internacional de Energia (AIE), com sede em Paris, prevê um pico da demanda de petróleo por volta de 2029, potências como os Estados Unidos e a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) projetam esse marco apenas para 2050, mantendo investimentos em combustíveis fósseis.

    Segundo a revista, as mudanças em prol da transição energética, embora necessárias, não estão acontecendo tão rapidamente quanto se esperava. “O retorno do cético climático Donald Trump é prova disso”, justifica. A publicação critica ainda o fato de que países emergentes como o “Brasil, anfitrião da COP30 que começa em 10 de novembro, acaba de autorizar uma nova exploração petrolífera na costa amazônica”.

    Leia tambémSede da COP30, Brasil 'sabota' o evento ao apostar em petróleo na Amazônia e põe em risco liderança climática

    Ao mesmo tempo, a China se posiciona como um “Estado elétrico”, acelerando sua transição com energias renováveis, aponta a edição da Le Nouvel Obs. A revista observa uma disputa de influência global que se desenha, além de uma batalha decisiva pelas terras raras.

    Papel da Europa nesse cenário

    “O que pode fazer a Europa nesse novo grande jogo da energia?”, pergunta Le Nouvel Obs. A revista acredita que o continente vive uma descarbonização forçada, mas enfrenta o risco de dependência tecnológica.

    A disputa entre “o império do petróleo e gás americano e o modelo chinês de eletrificação” evidencia que a transição energética está longe de ser apenas uma preocupação com o meio-ambiente: trata-se também de uma batalha pelo poder global.

    “O petróleo moldou toda a geopolítica do século 20. Já o início do século 21 é marcado pela corrida pelos metais, como lítio, cobalto e terras raras, essenciais para tecnologias de baixo carbono. A China, que domina o refino e boa parte da extração desses minerais, usa essa vantagem para pressionar os Estados Unidos e a Europa na guerra comercial. E também utiliza sua liderança para atrair o 'Sul Global' aos seus interesses”, sintetiza Le Nouvel Obs.

    No centro desse novo “grande jogo” da energia, a transição energética deixa de ser apenas uma questão ambiental e se revela como uma disputa geopolítica estratégica.

    Leia tambémEuropa x China: quem vai vencer a corrida pelo mercado de veículos elétricos?

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  • França: dilema identitário e polêmica com bandeiras palestinas provoca ruptura entre judeus e esquerda
    Nov 1 2025
    Nesta edição da resenha semanal da imprensa francesa, Le Nouvel Observateur e L’Express revelam duas fraturas profundas na sociedade francesa atual: o afastamento entre judeus e partidos de esquerda após os ataques do Hamas de 2023, e a crescente tensão em torno da exibição de bandeiras palestinas - e israelenses - em prédios e espaços públicos na França. Os relatos expõem dilemas políticos, identitários e simbólicos que atravessam o país em pleno 2025. Dois anos após os atentados de 7 de outubro de 2023, que reacenderam o conflito Israel-Palestina, judeus franceses que historicamente se identificaram com a esquerda vivem um momento de ruptura. Segundo a revista Le Nouvel Observateur, o mal-estar ficou evidente em um evento na prefeitura de Paris, onde a senadora socialista Laurence Rossignol foi criticada por não endossar o gesto de seu partido de "hastear a bandeira palestina". Rossignol tentou lembrar que a luta contra o antissemitismo sempre foi uma bandeira da esquerda, citando Léon Blum. Mas foi interrompida por vozes da plateia do Parlamento que afirmaram: “Isso é passado!”. Uma participante resumiu o sentimento, entrevistada pelo veículo: “Nós, judeus de esquerda, estamos um pouco órfãos. Pela primeira vez, não sei em quem votar”. A revista destaca que o vínculo histórico entre judeus e esquerda está em crise. O presidente do Crif — Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França —, Yonathan Arfi, afirmou que o ataque do Hamas não foi apenas contra Israel, mas contra os judeus do mundo inteiro. “Nosso cotidiano mudou, vivemos com medo e solidão, e a esquerda não soube ouvir isso.” Para o historiador Jonas Pardo, o antissemitismo na esquerda representa uma "regressão inaceitável". O deputado Boris Vallaud reforçou à reportagem: “Ser socialista é ter o antissemitismo como inimigo”. A revista também ouviu intelectuais e militantes judeus que relatam dilemas íntimos entre identidade, história familiar e engajamento político. O advogado Arié Alimi, próximo da esquerda radical francesa, afirmou que sua militância não compreende "o vínculo entre identidade judaica e Israel". “Esse vínculo é parte da nossa identidade”, disse ele à L'Obs. Alimi estudou em Jerusalém e tem família no país, sublinha a revista. Leia tambémFrança: prefeituras içam bandeiras palestinas ou israelenses, desafiando neutralidade do serviço público Combate identitário Já L’Express aborda a tensão em torno da exibição de bandeiras em espaços públicos e privados. Após os ataques de 2023, algumas prefeituras hastearam a bandeira de Israel; outras, a da Palestina. Ambas as ações foram contestadas judicialmente. Em setembro de 2025, 86 cidades desafiaram a ordem do governo e exibiram a bandeira palestina no dia em que Macron reconheceu o Estado da Palestina. A revista relata o caso de Maria, jovem franco-libanesa que foi pressionada a retirar bandeiras do Líbano e da Palestina de seu apartamento em Paris. “Queria demonstrar apoio às vítimas civis dos bombardeios em Gaza e no sul do Líbano”, disse ela à revista. Segundo o cientista político François Foret, há um “retorno do uso simbólico das bandeiras”, mas a questão Israel-Palestina "é muito mais polarizada que outras". No cotidiano, o uso de bandeiras também gera hostilidade. Em Paris, pichações acusaram um morador de ser ligado ao Hamas. Um comerciante foi ameaçado por exibir uma bandeira israelense em sua loja. Arfi relata que muitos judeus escondem símbolos religiosos ou mudam seus nomes nas caixas de correio para evitar problemas. “Há uma vontade de discrição”, afirmou à L'Express. A revista publica que mesmo os síndicos evitam o tema em "reuniões de condomínio". Um gestor contou à revista que pediu a retirada imediata de uma faixa pró-Gaza em um prédio. “Não podemos correr o risco de conflitos.” Até mesmo a bandeira francesa pode gerar desconforto, em diversoso casos, relata L'Express. Em Plessis-Robinson, uma moradora reclamou da bandeira tricolor nacional. A tensão simbólica revela "feridas profundas e desafios democráticos", conclui o semanário.
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  • Joias roubadas do museu do Louvre podem ser desmontadas para revenda no mercado clandestino
    Oct 25 2025

    O roubo cinematográfico das joias da Coroa Francesa no museu do Louvre, em 19 de outubro de 2025, ganha uma grande cobertura na imprensa semanal francesa. As revistas Le Point e Télérama desta semana mergulharam nos aspectos históricos, simbólicos e operacionais do crime, revelando não apenas o que foi levado, mas o que esse ataque representa para a memória nacional e para a segurança dos museus.

    Paris amanheceu tranquila naquele domingo, mas terminou com um dos episódios mais audaciosos da história recente dos museus europeus. Um grupo de quatro homens invadiu a Galeria de Apolo do Louvre, quebrando vitrines e roubando oito joias da Coroa Francesa em apenas sete minutos. A operação, descrita como “cinematográfica” pela revista Le Point, envolveu o uso de serras elétricas e fuga em scooters.

    Segundo Le Point, o furto visou principalmente as joias da imperatriz Eugênia, esposa de Napoleão III. Entre os itens levados estão sua diadema, um broche relicário e um laço de corpete. A coroa, embora danificada, foi abandonada na fuga dos criminosos. A publicação destaca que, ao lado das peças da imperatriz Maria Luísa e da rainha Maria Amélia, o roubo abrange boa parte das joias das soberanas do século XIX, marcando uma perda irreparável para o patrimônio francês.

    A reportagem traça uma linha entre o esplendor do Segundo Império e a ostentação joalheira que marcou o período. Napoleão III, em busca de legitimidade, investiu em joias como forma de rivalizar com a monarquia britânica. Os joalheiros Lemonnier, Bapst e Kramer foram encarregados de criar peças que exaltassem o savoir-faire francês, como o laço de corpete de Eugênia, composto por 4.720 diamantes da Coroa e 70 pedras adicionais.

    Leia tambémApós 'roubo do século', diretora do Louvre quer delegacia no meio do museu mais visitado do mundo

    Alta rastreabilidade

    A Télérama, por sua vez, adota um tom mais crítico e reflexivo. A revista questiona o valor comercial das peças roubadas, destacando que, se os ladrões buscavam lucro, teriam feito melhor em atacar vitrines de grandes joalherias contemporâneas. As joias da Coroa, embora de valor histórico e simbólico inestimável, dificilmente serão revendidas no mercado clandestino — justamente por serem únicas e rastreáveis.

    A historiadora Capucine Juncker, especialista em joalheria, expressa forte preocupação com o destino das joias, em entrevista à Télérama. Para ela, o roubo não parece ter sido encomendado por um colecionador bilionário. Juncker teme que os ladrões desmontem as peças e vendam as pedras separadamente, apagando sua origem e valor patrimonial. “Essas joias não são apenas objetos de luxo. Elas contam a história da França, da Europa e da arte joalheira do século XIX”, afirmou.

    Ambas as revistas convergem em um ponto: o roubo não é apenas um ataque ao patrimônio, mas uma ferida aberta na memória nacional francesa. A Galeria de Apolo, palco do crime, é o mesmo cômodo por onde Eugênia fugiu em 1870, durante a queda do Império, na época em que o Louvre era um palácio. A ironia histórica não passou despercebida pela revista. Como conclui Le Point, “nada se perdia, tudo se transformava. Mas agora, quase tudo se perdeu.”

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  • Risco de ‘ingovernabilidade’ na França: revistas semanais alertam para ‘implosão’ do sistema político
    Oct 18 2025

    A crise política francesa atinge novo patamar, segundo as revistas semanais Le Nouvel Obs e Le Point. Para a primeira, a suspensão da reforma da Previdência não basta para sustentar o governo Lecornu 2, que opera sem maioria e sob tensão orçamentária. Já a Le Point defende que Emmanuel Macron antecipe sua saída em 2026, apesar do primeiro-ministro francês ter sobrevivido, na quinta-feira (16), a duas moções de censura no Parlamento, dias após propor a suspensão dessa reforma crucial de Macron.

    A crise política francesa ganhou novos contornos nesta semana, com as revistas Le Nouvel Obs e Le Point apontando o esgotamento do governo Lecornu 2 e o isolamento crescente do presidente Emmanuel Macron. Para os semanários, a "arquitetura do sistema político" do país estaria comprometida, apesar do premiê francês Sébastien Lecornu ter conseguido superar a moção de censura – por apenas 18 votos – na Assembleia Nacional dos deputados.

    Segundo Le Nouvel Obs, “a suspensão da reforma da Previdência, arrancada pelo Partido Socialista, talvez não seja suficiente para manter vivo o frágil governo Lecornu 2”. Sem o respaldo do artigo constitucional 49.3 – que permite aprovar leis sem votação parlamentar – e diante de uma Assembleia fragmentada, o Executivo tenta sobreviver em meio a tensões orçamentárias e disputas ideológicas.

    O chefe de governo anunciou medidas como a tributação de holdings utilizadas por ultrarricos e a suspensão da idade mínima para aposentadoria aos 64 anos até a próxima eleição presidencial. Mas, como alerta Le Nouvel Obs, “todos os temas em pauta; orçamento, taxação dos mais ricos, cortes na seguridade; são inflamáveis”.

    A presidência também enfrenta desgaste. Macron, segundo a mesma revista, “continuou a agir como um presidente todo-poderoso entre 2022 e 2024, mesmo sem ter mais os instrumentos para impor sua vontade — ou seja, a maioria absoluta no Parlamento”. A esquerda, fora do poder há quase uma década, ainda não conseguiu se consolidar como alternativa, e as alianças progressistas se fragmentam diante da ascensão da extrema direita.

    Saída antecipada de Macron?

    Já a revista Le Point vai além e sugere que Macron deveria organizar sua saída antecipada em 2026, um ano antes do final de seu segundo mandato. “O impasse político se tornou perigoso, para a economia e para as instituições”, afirma a publicação. A dificuldade de aprovar o orçamento e a sucessão de sete ministros da Educação em apenas três anos são sinais de um sistema em colapso. E mais: ao longo de seus dois mandatos, Macron nomeou sete primeiros-ministros, "um recorde sob a Quinta República", pontua.

    A revista questiona: “É razoável deixar esse fardo para o próximo presidente? E como fazer campanha nessas condições, apenas para permanecer alguns meses a mais no poder?”.

    Citando o economista francês que acaba de ganhar o Nobel, Philippe Aghion, Le Point propõe: “Se é preciso parar o relógio da reforma, por que não adiantar o da eleição presidencial?” A decisão, como disse De Gaulle após sua renúncia, pode ser “uma boa saída”, relembra Le Point. "Cabe a Emmanuel Macron escolher qual é a melhor para ele, e sobretudo para o país", conclui a revista.

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