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Page de couverture de Angola, 50 anos depois: o legado e o futuro

Angola, 50 anos depois: o legado e o futuro

Angola, 50 anos depois: o legado e o futuro

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Cinquenta anos após a independência, Angola debate o significado da liberdade. O filósofo Domingos da Cruz lembra que o país conquistou a terra, mas não os direitos prometidos. Em 2015, o caso 15+2 expôs o autoritarismo e os limites da democracia. A memória oficial, diz o investigador Vasco Martins, silencia vozes e heróis esquecidos. Em Cabinda, Raúl Tati fala em “nova colonização”. Meio século depois, Angola vive entre orgulho e desencanto, resistência e esperança. Em Novembro de 1975, Angola tornou-se livre. Meio século depois, o país olha para trás e confronta duas verdades que coexistem: a libertação de um território e a persistência de um défice profundo de direitos. Entre avanços económicos intermitentes e desigualdade estrutural, a pergunta “o que significa ser livre?” continua a ecoar nas ruas, nas canções e nas vozes de quem nunca desistiu de reivindicar o seu sentido. O filósofo e activista Domingos da Cruz, um dos 15+2 detidos em 2015 por defenderem a mudança pacífica e a liberdade de expressão, faz um balanço severo do percurso pós-colonial. Reconhece que a independência cumpriu o essencial no plano territorial, mas falhou no plano dos direitos. “A ideia dos angolanos terem a posse do território no sentido físico”, recorda. “Um dos pais da independência, Holden Roberto, o seu movimento FNLA tinha como lema liberdade e terra. Isso efetivamente concretizou-se. Nesse sentido, quando combinamos esse espaço, esta terra, a presença de um povo e as instituições que funcionam como elas, como é óbvio, são demasiado conhecidas as disfuncionalidades institucionais de Angola. Não basta a existência e o controlo de um território no qual habita um povo e instituições disfuncionais, é necessário que esse povo desfrute os direitos fundamentais básicos sobre os quais faziam referência durante o período da luta anticolonial. Esses sim, esses direitos, infelizmente, não se concretizaram.” O caso dos 15+2 ficou, para muitos, como o retrato dos limites da liberdade em Angola. Para Domingos da Cruz, a prisão foi o momento em que a ilusão caiu: “Acho que o momento em que nós fomos presos, o caso em si, para mim representava uma espécie de ponto de não retorno. Mas, ao mesmo tempo também se pode concluir que a luta pela liberdade, a luta contra a ditadura que nos permitirá transitar para a democracia dependerá exclusiva e efetivamente do povo angolano. Ou seja, é a luta interna que vai determinar a nossa libertação.” Mesmo no exílio, o autor mantém esperança, ainda que uma esperança sem chão sob os pés. “Hoje não se pode falar efectivamente em liberdade. Podemos falar em resistência, não é? Aqueles que se posicionam contra a forma como as coisas vão seriam os resistentes, mas não estariam a viver a condição de liberdade no sentido físico. Embora possamos falar de uma liberdade interior. Há um futuro que é muito baseado na ideia puramente humana, no sentido de não podermos perder esperança. Mas é preciso darmos vazão à esperança infundada. Essa é uma esperança infundada que eu me refiro, sem qualquer base a partir da qual podemos nos agarrar, que não seja só mesmo uma natureza humana.” A disputa sobre a liberdade também se trava no terreno da memória. O investigador Vasco Martins tem estudado a arquitectura simbólica do país: heróis, mitos e silêncios, e como ela moldou a identidade oficial. “As lógicas do heroísmo, da moralidade e da virtude, portanto, dos valores essenciais para aquilo que era o novo país que o MPLA foi construindo, vão-se criando heróis, ou seja, personagens modelo, homens e mulheres (muito mais homens que mulheres) que se pautavam por estas características todas.” Mas fora dos grandes memoriais erguidos pelo Estado, corre uma memória popular, fragmentada e, cada vez mais, digital. Vasco Martins descreve o desfasamento entre o monumento e a cidade que o rodeia: “O memorial António Agostinho Neto é em larga medida visitado por crianças de escola com visitas organizadas e por turistas. E o trabalho que nós fizemos sobre o memorial mostrou dois elementos complicados para a possibilidade de disseminar uma memória com a qual os angolanos se identifiquem. Um deles é que, na esmagadora maioria das entrevistas que há, a única pessoa que aparece é Agostinho Neto. Portanto, a ideia que passa é que foi Agostinho Neto, sozinho, que combateu, trabalhou, negociou e trouxe a independência a Angola. Isso não só silencia a FNLA e a UNITA, mas também quadros importantíssimos do próprio MPLA.” O investigador acrescenta que o memorial é ainda marcado por um “aparato policial muito grande nas portas daquele espaço, sobretudo com a guarda do Presidente da República, militares armados, etc.”. Além disso, situa-se “num sítio muito pouco acessível, onde os angolanos realmente não passam”, e impõe “um código estético de vestuário que os angolanos ...
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