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Page de couverture de Bicentenário de D. Pedro II, o imperador que foi um ‘mediador cultural’ entre a França e o Brasil

Bicentenário de D. Pedro II, o imperador que foi um ‘mediador cultural’ entre a França e o Brasil

Bicentenário de D. Pedro II, o imperador que foi um ‘mediador cultural’ entre a França e o Brasil

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Dom Pedro II, o segundo e último imperador do Brasil, faria 200 anos neste dois de dezembro de 2025. O bicentenário é uma boa ocasião para relembrar a vida do monarca que governou o país por quase 50 anos e teve uma relação privilegiada com a França. Para o especialista Leandro Garcia Rodrigues, professor da UFMG, o imperador brasileiro deixou “um legado de estadista, tradutor e mediador cultural” entre a França e o Brasil. Mas a cultura brasileira divulgada por ele refletia o espírito eurocentrista da sociedade do século 19. Adriana Brandão, da RFI em Paris Dom Pedro II foi um soberano culto e erudito. O imperador brasileiro, que subiu ao trono em 1840 antes de completar 15 anos, compreendia 15 línguas, entre elas o sânscrito e o hebreu. Ele é reconhecido como um intelectual do século 19, que apreciava a arte, a literatura e a ciência. O monarca tinha uma relação privilegiada com a cultura francesa. “A França era uma espécie de pátria intelectual” não só de Pedro II, mas da elite brasileira desde a independência do país de Portugal, em 1822, lembra Leandro Garcia, autor de um pós-doutorado sobre a relação do imperador com a França. O tema foi abordado em um webinário organizado pela Biblioteca Nacional da França (BNF) e ministrado pelo professor para celebrar o bicentenário de nascimento de Pedro II. O fascínio dele pela cultura francesa fica evidente na numerosa correspondência que mantinha. “Foram mais de 30 correspondentes ativos”, revela o professor de teoria literária e literatura comparada da UFMG. Leandro Garcia Rodrigues detalha que a rede de sociabilidade epistolar do imperador era composta por cientistas e literatos. “No caso dos cientistas, especialmente aqueles ligados à egiptologia, porque um dos fascínios de Dom Pedro II era pela cultura egípcia e, na França, especialmente em Paris, havia um núcleo de egiptólogos muito forte no século 19. No mundo dos literatos, foram especialmente poetas.” Viajante incansável Viajante incansável, o imperador realizou três grandes viagens internacionais durante seu reinado, em 1871, 1876 e 1887. A cada vez, esteve na França, e aproveitou para conhecer pessoalmente os intelectuais ou cientistas com os quais se correspondia. “Um dos nomes mais importantes para a França e para o Brasil foi o Louis Pasteur, que foi amigo pessoal de Dom Pedro II. Inclusive, Dom Pedro II é um dos fundadores do Instituto Pasteur”, conta Leandro Garcia Rodrigues. Entre os cientistas, vale também destacar o nome de Henri Gorceix, francês fundador da Escola de Minas em Ouro Preto. Outro correspondente de peso foi o poeta e escritor Victor Hugo, “um dos maiores nomes da literatura francesa”. Dom Pedro II “conheceu Victor Hugo e foi à casa dele pessoalmente em Paris”, relembra o professor. A rede de correspondentes literatos do imperador tem ainda nomes como Chateaubriand, Ferdinand Denis, George Sand, Sully Proudhomme, Alphonse Lamartine, Alexandre Dumas (filho), Stéphen Liégeard que “são nomes importantíssimos para a cultura francesa,”, ressalta. Divulgando a cultura brasileira “A relação de Dom Pedro II com esse mundo intelectual não era uma relação passiva”, salienta Leandro Garcia Rodrigues. As trocas regulares contribuíram para aumentar os conhecimentos do imperador e para divulgar a cultura francesa no Brasil, mas também para promover a cultura brasileira na França. “Ele não apenas recebia textos literários, poemas, romances, não só da França como de outros países, mas também enviava, mandava textos da literatura brasileira traduzidos nessas línguas, no caso traduzidos para o francês, para serem publicados e divulgados na imprensa francesa”, afirma. Segundo ele, um exemplo dessa mediação foi a divulgação da obra do poeta Gonçalves Dias na França. “Na época, no século 19, o Gonçalves Dias era considerado o mais importante poeta do Brasil. Ele foi amplamente traduzido para o francês a pedido de Dom Pedro II e publicado na imprensa francesa”, informa o professor. No entanto, a cultura brasileira divulgada pelo imperador carregava valores muito diferentes dos atuais e refletia o espírito da sociedade eurocentrista do século 19. Como criticava o grande escritor português Alexandre Herculano, a literatura brasileira dessa época “era escrita no Brasil, mas com umbigo na Europa”. “No século 19, o eurocentrismo era um sentimento muito forte, não se libertava fácil, até porque a gente era uma ex-colônia de um país europeu, no caso, Portugal. Então, a nossa literatura brasileira ainda tinha muitas feições europeias, embora tivesse, por exemplo, elementos nacionais, como no caso do indianismo. Mas eram alguns personagens indígenas, com características morais europeias. Isso era o comum. Eu acho até que não tinha como ser diferente porque a Europa realmente era um parâmetro para os nossos literatos”, contextualiza. ...
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