Obtenez 3 mois à 0,99 $/mois

OFFRE D'UNE DURÉE LIMITÉE
Page de couverture de 'Clandestinos': saga de um brasileiro no deserto do México para imigrar aos EUA é contada em livro

'Clandestinos': saga de um brasileiro no deserto do México para imigrar aos EUA é contada em livro

'Clandestinos': saga de um brasileiro no deserto do México para imigrar aos EUA é contada em livro

Écouter gratuitement

Voir les détails du balado

À propos de cet audio

O que você seria capaz de fazer em busca do sonho de imigrar para outro país? O brasileiro Cleidson Vieira da Silva arriscou uma travessia de 360 quilômetros pelo deserto do México para tentar chegar aos Estados Unidos. Essa aventura ele decidiu contar no livro Clandestinos, publicado em português e francês. Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris. A obra relata a jornada de um casal que enfrentou prisão e percorreu mais de 4 mil quilômetros, partindo da Guatemala até Tucson, no Arizona, onde foram capturados e depois deportados. Nascido na Bahia e criado em uma favela de São Paulo, Cleidson já vivia com a esposa, Cláudia, em Portugal quando resolveu tentar a sorte nos Estados Unidos. Mas nem tudo saiu como planejado. “Um amigo me convidou para ir para os Estados Unidos. Naquela época, era extremamente difícil para alguém sem condições financeiras conseguir um visto. Ele sugeriu que fizéssemos a famosa travessia pelo deserto entre o México e os Estados Unidos. Acertamos tudo: ele pagaria a passagem. Então me orientou: vá para a Guatemala, que de lá conseguimos levá-los até Sonora, na fronteira”, conta. A travessia era extremamente perigosa. Cleidson admite que não tinha noção dos riscos envolvidos. “Para ser sincero, eu não imaginava o nível de perigo que corremos. Sobretudo quando penso que minha esposa tinha feito uma cirurgia no coração. Se algo tivesse acontecido com ela, poderia ter morrido no deserto”, lamenta. Um dos momentos mais difíceis foi quando se perderam. “Numa noite, a polícia apareceu. Todo mundo saiu correndo. Quando percebi, não a enxergava mais. Os óculos dela caíram no chão e, naquele momento, foi desesperador. Aquilo me sufocou por dentro. Acho que foi a pior sensação da minha vida”, acrescenta. No deserto, enfrentaram temperaturas de 44 °C durante o dia e muito frio à noite. Sem água e com pouca comida, o grupo precisou se aquecer juntos. “Deitamos para descansar um pouco. Éramos quatro pessoas. Fazia tanto frio que tivemos que nos encostar uns nos outros. Sentíamos o corpo tremer”, lembra. Ao chegar aos Estados Unidos, decidiram se entregar às autoridades. “O plano era chegar a um caminhão-pipa, que nos levaria até Phoenix e, depois, um carro nos levaria ao Mississippi. Mas, quando chegamos à montanha, não havia ninguém. Ficamos ali praticamente um dia inteiro. À noite, vi luzes cintilantes ao longe e fiz um pacto com ela: daqui para frente, a gente se entrega. Já estávamos ali havia um mês. Em Tucson, numa cidade deserta típica de filme, vimos um carro da polícia. Ele deu marcha à ré e pediu para pararmos. Ali acabou o famoso American Dream”, relata. Deportação para o Brasil Antes da deportação para o Brasil, passaram um mês na prisão. “Enquanto alguém não assinasse a deportação, eu não poderia sair. Ficamos 30 dias presos”, conta. A decisão de transformar a experiência em livro só veio depois que o casal já estava estabelecido na França. “Vivo há 15 anos na França e morei cinco anos em Portugal. Sempre trabalhei em obras. Um dia, minha esposa disse: ‘Você tem uma história incrível e chegou a um lugar bacana. Você é da comunicação’. Aquilo ficou na minha mente. Em algum momento, pensei: é isso mesmo”, explica. Além de exorcizar fantasmas internos, o livro também alerta quem pensa em fazer essa travessia ilegal. “A ideia é servir como voz para muitos que já passaram por isso e não têm coragem de contar, ou evitar que outros corram os mesmos riscos”, afirma o autor. A obra também narra como Cleidson e Cláudia recomeçaram a vida na França. “Só estou aqui em Paris porque precisei pagar a dívida de US$ 10 mil. Voltei para Portugal em 2009, 2010, quando houve uma grande crise. Alguém me sugeriu vir para a França. Vim porque estava com dificuldade para pagar essa dívida. A empresa francesa para a qual prestávamos serviço junto a uma empresa portuguesa me convidou para trabalhar, e estamos aqui há 15 anos”, comemora. A tentativa de entrar nos Estados Unidos aconteceu em 2007, durante o governo do republicano George Bush. Questionado sobre a política de caça aos imigrantes não documentados na presidência de outro republicano, Donald Trump, o autor lamenta: “Isso é bem complicado. Conheci muitas pessoas nos Estados Unidos, na prisão, cujas famílias inteiras estavam ali. As fronteiras foram fechadas para impedir a passagem dessas pessoas. Senti isso na pele. Acho bem complexa essa ideia de fechar tudo. Tenho as três raças que formam o Brasil: sou descendente de indígenas, negros e portugueses. Somos uma mistura muito grande”, conclui. A versão em português do livro foi publicada pela editora "Primeiro Capítulo" e em francês pela editora "Témoigne".
Pas encore de commentaire