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Page de couverture de Flup celebra diáspora negra e traz literatura como 'aquilombamento' para 'reencantar' o debate decolonial

Flup celebra diáspora negra e traz literatura como 'aquilombamento' para 'reencantar' o debate decolonial

Flup celebra diáspora negra e traz literatura como 'aquilombamento' para 'reencantar' o debate decolonial

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A 15ª edição da Flup, a Festa Literária das Periferias, foi inaugurada esta semana sob o Viaduto de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, como parte da temporada da França no Brasil 2025. Com o tema “Ideias para reencantar o mundo”, o evento reúne artistas, autores e pensadores da diáspora negra do Brasil, África, Caribe, América do Norte e Europa. Madureira, território e epicentro simbólico da resistência negra carioca, tornou-se palco de um encontro de celebração e manifesto político. Márcia Bechara, enviada especial da RFI ao Rio de Janeiro A Flup 2025 escolheu Madureira como território catalisador das diásporas negras decoloniais. Julio Ludemir, diretor e idealizador do festival, explicou que “o local é uma encruzilhada do comércio, uma encruzilhada de vários pontos de vista, inclusive do ponto de vista exusístico”, numa referência a Exu, orixá do movimento e da comunicação no Candomblé, responsável por abrir caminhos e conectar humanos aos deuses do panteão africano. Para ele, o bairro de Madureira, na zona norte do Rio, é mais que geográfico: é espiritual e cultural. “Todas as dores do mundo são afastadas quando você pode vir a um lugar onde está no campo dos iguais, no campo do espelho”, disse. Ludemir ressaltou que o icônico Viaduto de Madureira concentra “todos os códigos do Rio de Janeiro: o samba, o jongo, o candomblé”, além do Baile Charme que há mais de três décadas ocupa o viaduto e se tornou patrimônio da resistência negra. “É por isso que estamos aqui: porque Madureira, agora, é o centro do mundo”, concluiu. O Baile Charme do Viaduto de Madureira é um polo simbólico da cultura negra e periférica carioca, surgido no início dos anos 1990, que se tornou Patrimônio Cultural Imaterial da cidade graças à sua relevância como espaço de resistência, identidade e ascensão para a juventude da Zona Norte. Ao longo dos anos, já passaram por lá grandes nomes da música nacional e internacional como Keith Sweat, Montell Jordan, Sandra de Sá, Negra Li e Racionais MCs. Este ano, os músicos confirmados na programação são Jonathan Ferr, Mano Brown, Majur, Luedji Luna, Sandra de Sá e Mart’nália. Herança de Fanon A mesa de abertura trouxe a presença de Mireille Fanon, renomada jurista e ativista antirracismo, filha de Frantz Fanon — o influente psiquiatra, filósofo e teórico da decolonização, autor de obras fundamentais como Pele Negra, Máscaras Brancas e Os Condenados da Terra. Mireille preside a Fundação Frantz Fanon e dá continuidade à luta de seu pai contra o racismo, a alienação e a desigualdade mundial, entre outros combates. Sua participação na Flup 2025 foi marcada como momento simbólico e estratégico, reforçando a conexão viva entre o legado anticolonial e os debates contemporâneos sobre justiça social e solidariedade transnacional. Em sua fala, ela insistiu que “se queremos mudar o mundo, isso só pode acontecer de maneira coletiva”. Fanon criticou o sistema capitalista por "condicionar as pessoas a pensar apenas no bem-estar individual", quando a prioridade deveria ser o "bem-estar coletivo da humanidade". “Essa transformação depende de um empenho horizontal, não hierárquico: um trabalho de base, sem heróis salvadores vindos de cima”, afirmou. Para Mireille, as lutas atuais — de Gaza ao Haiti, do Chile à África — não são crises isoladas, mas parte de uma lógica global de exploração que precisa ser enfrentada coletivamente. Sobre a mitificação das figuras históricas, entre elas seu pai, Frantz Fanon, Mireille critica a forma como o sistema transforma seus “grandes homens e grandes mulheres” em heróis neutros, para "não ameaçar a ordem vigente": "preferem fazer de nossos grandes homens… heróis, de forma a neutralizá-los". Mireille afirmou que há uma estratégia deliberada de "neutralização": "ao fazer dessas figuras modelos heroicos, o sistema as cooptam, evitando que suas lutas inspirem outros a lutar coletivamente". Mas para ela, o objetivo é outro: que a luta dessas mulheres e homens seja "exemplo vivo, uma prova de que podemos sonhar e construir uma política de liberdade por meio da solidariedade, não apenas pela figura de um salvador". Literatura como direito Durante a mesa de abertura, a escritora Conceição Evaristo, primeira autora viva a ser homenageada pela Flup em sua 15ª edição, falou sobre o legado que deseja deixar às próximas gerações. “A mensagem que eu deixaria é pensar a literatura como direito, como direito cidadão”, declarou. Para ela, é fundamental “pensar a escrita como direito” e incentivar que jovens escritoras periféricas se conectem umas com as outras, “perceber o aspecto coletivo das nossas histórias sem anular a individualidade”. Conceição concluiu com um chamado: “Que formem grupos, que se aquilombem em torno da literatura”. Conceição Evaristo, primeira autora viva homenageada ...
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