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Page de couverture de Mulheres e juventude: os herdeiros da independência

Mulheres e juventude: os herdeiros da independência

Mulheres e juventude: os herdeiros da independência

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Angola celebra 50 anos de independência entre memórias de luta e desilusões. Bonga recorda a emoção de 1975, mas lamenta “não termos motivo para comemorar”. Mulheres como Henriqueta Pedro e activistas como Sizaltina Cutaia e Laura Macedo expõem desigualdades e silêncios. Meio século depois, Angola continua a procurar a liberdade plena que o sonho da independência prometeu. Angola assinala esta terça-feira meio século de independência, cinquenta anos de uma história marcada por lutas, esperanças e reinvenções. Mas, para muitos angolanos que herdaram o sonho de 1975, a realidade de hoje nem sempre corresponde à promessa da liberdade. Poucos nomes traduzem tão bem essa travessia como Bonga, voz incontornável da identidade nacional e testemunha de todos os tempos da pátria. O músico recorda que, no dia da independência, se encontrava em Paris, “com o meu grupo, porque já havia começado uma faceta muitíssimo importante que depois ficou por uma data de anos, continua”, e confessa que recebeu a notícia “com a lágrima no canto do olho, muita emoção, abraços fraternos”, mas também com inquietação: “sobretudo o pensamento de qual seria o futuro da nossa terra, da nossa gente”. Meio século depois, o balanço é amargo. “Esse futuro foi aquilo que a gente menos esperou e menos cria. É uma turbulência tremenda. Sofremos bastante e continuamos a sofrer. Não temos motivo para comemorar”, lamenta. A turbulência a que Bonga se refere é a de uma guerra civil que mergulhou o país em décadas de violência, destruição e desigualdade. Entre os herdeiros dessa história, persistem as feridas e as contradições. As mulheres, por exemplo, foram o pilar silencioso da luta de libertação: alimentaram as tropas, sustentaram as famílias e muitas empunharam armas. Henriqueta Pedro, que integrou a luta clandestina em 1964, primeiro na UPA e depois na FNLA, recorda que “aquilo era uma luta clandestina que cada qual fazia o seu trabalho no local onde se encontravas. Apenas nós começamos a nos cruzar a partir de 1974, mas antes disso nós não podíamos nos cruzar. E o chefe do grupo dizia mesmo: vocês não podem se encontrar, porque depois um é agarrado pela PIDE e descobre os outros”. Com a chegada da independência, a esperança rapidamente deu lugar à confusão. “Antes de 75 aqui foi um artilho”, diz Henriqueta Pedro. “Nós não esperávamos nem contávamos com aquilo. A FNLA foi o primeiro partido que começou no governo de transição, mas depois que chegou aquilo foi uma confusão terrível. Começamos a sentir forças estranhas no país, principalmente entre os cubanos. A juventude na altura quase que não entendia nada. Era o grupo dos Muquaxos, matavam os seus próprios irmãos, torturavam os portugueses aonde quer que estivessem. Foi um momento muito difícil, muita matança, muita morte inocente, sem necessidade.” A antiga combatente lamenta que “o governo de transição que tinha previsto que cada um governasse a sua parte até chegar às eleições, e depois das eleições viria aquele que ganhasse. Infelizmente as eleições foram interrompidas. Angola não lhe foi dada a independência, porque aquilo foi uma guerra. Deixaram Angola para ir assinar os Acordos de Alvor, que definiam o 11 de Novembro como a data da independência. Esperaram 11 de Novembro e cada qual proclamou no sítio onde estava”. Hoje, Henriqueta Pedro decreve um país marcado pela corrupção e pelo nepotismo. Meio século depois, as suas palavras encontram eco nas gerações mais jovens, que tentam construir um novo sentido para a liberdade. A activista social Laura Macedo explica não ser uma activista política, mas sim uma activista social: "Não tenho é a culpa que a política seja a vida, que a política esteja a interferir com a vida dos cidadãos. E quando digo política, estou a falar em política partidária. A política partidária interfere na vida dos cidadãos e manieta-os a todos os níveis.” Na reconstrução da memória colectiva, o investigador português Vasco Martins observa que “na construção da memória oficial, os heróis são muito mais homens que mulheres”. A activista Sizaltina Cutaia concorda e acrescenta que “quando se conta a história da independência, conta-se uma luta de libertação protagonizada por homens. É uma nação que foi parida, entre aspas, por homens, não reconhecendo o lugar de protagonistas que as mulheres tiveram. Muitas vezes referem-se às mulheres como as que contribuíram, as que ajudaram, mas não se pensa nelas como protagonistas desta luta. Há um silenciamento muito grande em relação à contribuição das mulheres que participaram na luta ao lado da FNLA, por exemplo.” Esse silenciamento estende-se à vida contemporânea, onde a desigualdade de género permanece entranhada. Laura Macedo sublinha que “nas famílias de renda mais baixa, os pais continuam a optar por dar mais formação aos ...
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