O pentecostalismo é um fenômeno religioso de massa que marcou o século XX, sendo o movimento mais impactante a emergir do protestantismo americano. Seu crescimento global é impressionante, com estimativas apontando para mais de 600 milhões de fiéis no mundo por volta de 2013 (quase 1/3 de todos os cristãos na época), com projeções indicando que o número poderia se aproximar de 1 bilhão até 2025.
O movimento teve suas raízes nos Estados Unidos, com foco central na experiência visível com o Espírito Santo. O ponto de partida destacado é o reavivamento na Azusa Street, em Los Angeles, por volta de 1906. Essa missão inicial se notabilizou por ter uma liderança negra (o pregador William J. Seymour), conferindo ao movimento um caráter interracial incomum no contexto segregado da época.
Uma distinção teológica chave do pentecostalismo clássico é a convicção de que o sinal evidente e a prova visível do batismo no Espírito Santo é a glossolalia (o falar em línguas). Essa experiência é vista como posterior à conversão, ligada à santificação e ao recebimento de poder espiritual. Essa ênfase difere, por exemplo, dos carismáticos católicos, que geralmente não veem a glossolalia como o sinal indispensável do batismo no espírito.
O nome do movimento deriva do Pentecostes bíblico, uma antiga festa judaica de colheita e da entrega da Lei, celebrada 50 dias após a Páscoa. O ponto de virada é o evento de Atos dos Apóstolos (capítulo 2), 50 dias após a ressurreição de Jesus, quando os discípulos, reunidos em Jerusalém, viram "línguas como que de fogo" descerem sobre eles, sendo cheios do Espírito Santo e começando a falar em outras línguas.
Simbolicamente, no Antigo Testamento o fogo subia (consumindo a oferta), mas no Pentecostes de Atos, o fogo do Espírito desce do céu e pousa sobre as pessoas. Isso reflete que o sacrifício de Jesus é definitivo, tornando desnecessários os sacrifícios contínuos de animais. O Espírito Santo passa a habitar no crente, promovendo regeneração e capacitação, e o acesso a Deus se torna direto e pessoal através de Cristo (sacerdócio universal).
A história cristã primitiva foi marcada pela tensão entre a Graça (salvação pela fé em Cristo) e a Lei (salvação pela obediência aos mandamentos). O Concílio de Jerusalém (Atos 15) resolveu esse conflito, afirmando que a salvação vem pela graça do Senhor Jesus Cristo através da fé, e não pela imposição da lei mosaica.
Contudo, com o passar do tempo, a estrutura da igreja (que inicialmente tinha bispos, presbíteros e diáconos) tornou-se mais formalizada e hierárquica. Essa rigidez foi acelerada quando o cristianismo se tornou a religião oficial do Império Romano (380 d.C.).
O pentecostalismo é interpretado como um movimento de reavivamento que surge em reação a essa rigidez institucional, buscando resgatar a vitalidade original, a experiência pessoal e direta com Deus, e o poder do Espírito Santo da igreja primitiva. A força do movimento reside nessa convicção profunda de que a experiência de Pentecostes deve ser vivida no presente, refletindo a tensão constante entre a liberdade do espírito e a necessidade humana de ordem, doutrina e estrutura.