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Page de couverture de Trump, a carne argentina e a ira dos pecuaristas americanos

Trump, a carne argentina e a ira dos pecuaristas americanos

Trump, a carne argentina e a ira dos pecuaristas americanos

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Em outubro de 2025, o ex-presidente Donald Trump anunciou um plano para aumentar substancialmente a importação de carne da Argentina, com o objetivo de reduzir os preços da carne bovina nos Estados Unidos. A medida, além de econômica, tinha também uma faceta diplomática ao favorecer um país aliado em dificuldades econômicas. No entanto, para muitos pecuaristas americanos, o gesto soou como uma traição à agenda de “América Primeiro” e provocou uma onda de indignação no setor agropecuário.

Thiago de Aragão, cientista político, de Washington,

A propalada estratégia consistia em ampliar a cota tarifária para a carne argentina para cerca de 80 000 toneladas por ano, algo em torno de quatro vezes o nível anterior, de modo a permitir que mais carne entrasse nos EUA com tarifas reduzidas.

A justificativa apresentada era clara: os preços da carne bovina estavam em níveis recordes, em parte em razão da redução do rebanho nacional e dos custos elevados de produção, e a importação serviria como alívio rápido para o consumidor. Além disso, an Argentina, fragilizada economicamente, era vista por Trump como um parceiro que merecia apoio externo, uma combinação de política doméstica e diplomacia externa.O anúncio gerou reação imediata entre os pecuaristas e suas associações de representação. A National Cattlemen’s Beef Association (NCBA) declarou que ampliar o acesso da carne argentina ao mercado americano “cria caos em momento crítico para os produtores” e “não reduz os preços no supermercado”.

utro grupo relevante, a U.S. Cattlemen’s Association (USCA), alertou que a medida “enfraquece a base da nossa indústria”.

O mercado também reagiu: os contratos futuros de gado apresentaram queda acentuada logo após os anúncios, sinalizando apreensão sobre o impacto da política no valor do animal antes do abate. Além da dimensão econômica, a insatisfação alcançou o campo político, com parlamentares de estados pecuaristas, tradicionalmente aliados de Trump, questionando a consistência da iniciativa com o discurso “América Primeiro”.

Ceticismo com a estratégia

Do ponto de vista econômico, embora a ideia pareça simples, mais importações para “fornecer mais oferta” e reduzir preços, os analistas são céticos quanto à sua eficácia. A Argentina é responsável por cerca de 2% das importações de carne bovina dos Estados Unidos. Por isso, mesmo que suas exportações aumentem significativamente, é pouco provável que isso tenha um impacto relevante nos preços do bife ou do lombo premium no mercado americano.

No entanto, importações adicionais podem pressionar o mercado de carne moída, já que muitos cortes importados são magros e destinados à mistura. Para os pecuaristas, o risco é duplo: além de pressão sobre o preço recebido pelo gado, há desalento para reinvestir e recompor um rebanho que ficou comprimido durante anos.

Politicamente, a iniciativa revela fissuras na base rural do Partido Republicano e lança dúvidas sobre a fidelidade de certas políticas do Estado à defesa dos produtores domésticos. O risco para Trump é perder credibilidade entre aqueles que, até então, lhe davam suporte incondicional.

Controvérsia

A controvérsia envolvendo a carne argentina expõe de forma clara a tensão entre manter os preços baixos para o consumidor, defender a produção doméstica e conduzir política externa de forma estratégica. Não há vilões claros: consumidores buscam alívio, produtores querem renda justa, governo tenta mostrar ação. Mas a elegância da boa política está justamente em conciliar essas demandas.

Aqui, o que se vê é uma tentativa de atalho que pode sair caro, um gesto de curto prazo que desvia prioridades estruturais e compromete suporte num setor sensível. O episódio serve de lembrete de que segurança alimentar e prosperidade rural caminham lado a lado: negligenciar um em favor do outro é convite à frustração e à instabilidade.

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