Épisodes

  • Chilenos querem mais segurança e menos imigrantes, o exato perfil da extrema direita de Kast
    Dec 12 2025
    No próximo domingo (14), os chilenos devem tornar a extrema direita de José Antonio Kast a mais votada de toda a história do país. Paralelamente, a comunista Jeannette Jara pode ter a menor votação da esquerda desde a recuperação da democracia há 35 anos. Os chilenos querem alguém de fora do sistema tradicional de partidos e querem ‘linha-dura’ contra o crime e contra a imigração irregular, exatamente o perfil de Kast. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires De um lado, a comunista Jeannette Jara representa uma coalizão de centro-esquerda progressista. Jara foi ministra do Trabalho do atual governo do presidente Gabriel Boric. Esses são justamente os seus dois pontos fracos: ser a candidata governista de um presidente com 30% de imagem positiva e ser comunista, uma característica alvo de resistência da maioria dos chilenos. Ao longo da campanha, Jeannette Jara teve muita dificuldade para classificar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela como uma ditadura. Acabou admitindo essa condição para a Venezuela, mas, no caso de Cuba, disse que se trata de uma “democracia diferente”. Do outro lado, o ex-deputado de extrema direita, José Antonio Kast, na sua terceira tentativa de chegar à Presidência. Ao longo de 16 anos como legislador, não é conhecida nenhuma iniciativa de Kast, a não ser a sua oposição à pílula do dia seguinte e ao aborto até mesmo em caso de estupro. O ultracatólico, pai de nove filhos com a mesma esposa, contra os direitos reprodutivos da mulher, contra a igualdade de gênero e defensor do ex-ditador Augusto Pinochet, promete expulsar os imigrantes irregulares e fazer um governo de emergência. Kast é filho de um ex-afiliado do Partido Nazista de Adolf Hitler e foi sempre um defensor do ex-ditador chileno, Augusto Pinochet. Aliás, na sua primeira tentativa de ser presidente disse que, se Pinochet estivesse vivo, votaria nele. Esse tipo de perfil, que antes causava rejeição no eleitorado, está atualmente em sintonia com o que a maioria dos chilenos quer: linha-dura contra a criminalidade e contra os imigrantes irregulares, especialmente os venezuelanos, acusados de terem levado ao Chile o crime organizado. Antissistema Pode parecer um simples choque de posturas ideológicas extremas, mas, no fundo, os chilenos estão mostrando um repúdio ao sistema político tradicional. Há quatro anos, o atual presidente Gabriel Boric já tinha sido eleito com essa lógica de antissistema. Agora, os chilenos voltam a escolher aquele que não tenha sido governo, mas com um componente novo: a demanda popular por segurança. Esse é exatamente o perfil de José Antonio Kast; não o de Jeannette Jara. A candidata tem se mostrado mais comunicativa, tem apresentado mais propostas, tem adotado, inclusive, propostas de outros candidatos derrotados e tem alertado os chilenos sobre o risco que Kast representa em termos de perdas de direitos sociais adquiridos. A única preocupação de Kast tem sido a de não errar de maneira grave. O candidato se expôs pouco. Não deu entrevistas, nem mesmo coletivas, e até evitou um evento de encerramento da campanha em Santiago, optando apenas por um em Temuco, no Sul do Chile, onde a direita tem mais votos. Kast só promete que vai combater o crime e expulsar os imigrantes ilegais, cerca de 334 mil, na sua maioria venezuelanos. Faz, inclusive, uma contagem enigmática de quantos dias faltam até 11 de março, quando começaria o novo mandato. Essa contagem regressiva, diz Kast, é o tempo que falta para os imigrantes deixarem o Chile e para acabar o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela. Vitória histórica No primeiro turno, há um mês, Jeannette Jara ganhou com 26,8% dos votos, menos de três pontos à frente de Kast. A maioria da sociedade chilena votou em candidatos de direita que se alinharam no segundo turno. Jara obteve menos do que os 30% de aprovação do governo Boric e menos do que os 37,5% que obtiveram os candidatos governistas ao Congresso. No dia 30 de novembro, último dia permitido pela lei eleitoral chilena para a divulgação de sondagens, José Antonio Kast tinha quase 60% dos votos válidos, enquanto Jara passava um pouco dos 40%. No último mês, houve três debates presidenciais que teriam servido para Jara diminuir a distância com Kast, mas sem ameaçar a vitória da extrema direita. As três pesquisas divulgadas indicam entre 46% e 51% para Kast, entre 34% e 35% para Jara e entre 14% e 20% de votos nulos e brancos. Diante dessa distância aparentemente irreversível, o maior desafio da candidata comunista é o de tentar chegar o mais perto possível dos 45% dos votos válidos para ser uma oposição relevante. Já o papel de Kast é o de fazer uma eleição histórica para implementar um governo de emergência sem muita resistência. Governo de emergência A direita nunca teve tanto apoio do eleitorado. Em consequência, a esquerda nunca teve tão pouco. Nas eleições de 2017, o ...
    Voir plus Voir moins
    8 min
  • Greve geral histórica em Portugal paralisa transportes, fecha escolas e pressiona hospitais
    Dec 11 2025
    Portugal enfrenta nesta quinta-feira (11) uma greve geral histórica, a primeira em 12 anos convocada em conjunto pelas duas maiores centrais sindicais do país, CGTP e UGT. A paralisação é uma reação direta ao polêmico pacote trabalhista apresentado pelo governo de Luís Montenegro, que propõe mais de cem mudanças na legislação laboral. Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa. Os efeitos da greve começaram ainda na noite de quarta-feira (10) e se intensificaram nas primeiras horas da manhã desta quinta. Os trens foram os primeiros a registrar problemas, com parte da circulação interrompida durante duas horas no período da manhã, com destaque para a região do Porto, onde quase metade das linhas foi suspensa. A CP, empresa responsável pela operação, funciona apenas com serviços mínimos até sexta-feira (12), e muitos passageiros enfrentaram atrasos de mais de meia hora. Para tentar contornar o caos, empresas e trabalhadores combinaram atrasos tolerados ou home office. Em Lisboa, o metrô não abriu as portas: permanece totalmente fechado desde as 6h da manhã e só volta a operar na madrugada de sexta. No Porto, apenas a linha amarela funciona; todas as outras estão interrompidas. Quem buscou alternativas também encontrou dificuldades. A Carris, empresa de ônibus de Lisboa, opera apenas com 12 carros, todos com intervalos bem maiores que o normal. Nas travessias fluviais pela Transtejo e Soflusa, apenas 25% das ligações são mantidas, e somente nos horários de pico. O setor aéreo é outro que sente o impacto: a TAP opera hoje com apenas um terço dos voos e a companhia angolana TAAG cancelou o voo diurno para Lisboa. Escolas fecham e hospitais enfrentam pressão Muitas escolas permanecem fechadas. Pais foram avisados previamente para se prepararem, mas a paralisação ainda assim gerou transtornos. A Fenprof, maior federação de professores, já previa uma adesão alta — e isso se confirmou. O setor da saúde, por sua vez, já vinha registrando sinais de colapso antes mesmo da greve. Os tempos de espera nas emergências, em média, ultrapassavam 10 horas, podendo chegar a 15 horas em alguns casos, muito acima da recomendação de uma hora para atendimento inicial. Nesta quarta, apenas os serviços mínimos estão garantidos: emergências, internações, quimioterapia, radioterapia e cuidados inadiáveis. Mas o sistema já estava sobrecarregado — falta pessoal, faltam recursos e a exaustão das equipes é evidente. Para profissionais e pacientes, o sentimento é de desgaste acumulado. O que está em jogo: o pacote trabalhista A proposta do governo traz mais de cem mudanças na lei do trabalho. Os pontos mais criticados são: - 150 horas extras obrigatórias por ano, podendo ser impostas unilateralmente pela empresa.- Contratos temporários mais longos, passando de dois para três anos; o que sindicatos consideram um estímulo à precarização.- Regras mais rígidas sobre horários de mães que amamentam, reduzindo o período de flexibilidade.- Novas limitações para pais com filhos até 12 anos pedirem horários adaptados. Os sindicatos dizem que as medidas representam perda de direitos históricos, atingindo principalmente mulheres, famílias monoparentais e trabalhadores mais vulneráveis. Já o governo afirma que o objetivo é “modernizar” o mercado de trabalho e aumentar a competitividade do país. Como a população reage Segundo pesquisas recentes, 61% dos portugueses apoiam a greve geral. Ainda assim, há muita irritação no dia a dia: a paralisação acontece em pleno dezembro, mês de intenso movimento nas cidades, e deixa milhares de pessoas sem opção de deslocamento. Leia tambémPortugal oferece treinamento a imigrantes em profissões com falta de mão de obra A proposta de revisão da legislação trabalhista, chamada “Trabalho XXI”, foi apresentada pelo governo em 24 de julho. Porém, à medida que o conteúdo da reforma foi sendo discutido na Concertação Social, CGTP e UGT passaram a denunciar o pacote como um ataque aos direitos dos trabalhadores. O acúmulo dessas tensões levou as duas centrais, que raramente atuam juntas, a convocarem a atual greve, a primeira conjunta desde 2013. Mesmo após apresentar uma nova versão com algumas concessões, o governo sinalizou que não pretende prolongar indefinidamente a negociação, e que, com ou sem acordo social, o texto seguirá para debate e votação na Assembleia da República nos próximos meses, após a conclusão do ciclo orçamentário.
    Voir plus Voir moins
    5 min
  • 'Mimados?': entenda por que os jovens alemães recusam o serviço militar
    Dec 10 2025
    Diante de uma crescente ameaça de conflito vinda do leste, o Parlamento alemão aprovou, na sexta-feira (5), o chamado Novo Serviço Militar, uma reforma que mantém o serviço voluntário, mas estipula regras mais rígidas e que – reconhece o próprio governo – pode levar à obrigatoriedade no futuro. A nova lei foi recebida com protestos de jovens em 90 cidades, e a Alemanha agora se pergunta: ninguém mais está disposto a defender o seu país? Gabriel Brust, correspondente da RFI em Düsseldorf Os protestos levaram cerca de 3.000 pessoas às ruas de Berlim. A partir de 2026, todos os homens, ao completarem 18 anos, deverão responder a um questionário e passar por avaliação médica. O objetivo do governo é aumentar o efetivo voluntário das Forças Armadas em 80.000 militares, chegando a 260.000. O serviço continua sendo opcional, mas se os números não forem atingidos, a lei deixa espaço para uma reintrodução da obrigatoriedade no futuro. “Não quero morrer em uma guerra” Diferentes pesquisas apontam para uma aprovação geral da população alemã à volta do serviço militar obrigatório (cerca de 70%), mas o cenário muda, é claro, quando a pesquisa é feita junto ao grupo mais afetado, os jovens a partir de 18 anos. Pesquisas mostram números discrepantes, com aprovação à obrigatoriedade variando entre 30% e 54%. Nos protestos da última semana, os cartazes iam do pacifismo até críticas ao governo e à própria Bundeswehr, as Forças Armadas alemãs. Alguns depoimentos colhidos pela revista Der Spiegel incluíram: "Não tenho nenhum desejo de morrer em uma guerra ou passar seis meses da minha vida em um quartel.” Houve também pautas alinhadas com a nova geração: “Toda hora se ouve falar de bullying, sexismo, racismo ou até mesmo redes de extrema direita na Bundeswehr. Acho isso abominável”, declarou um jovem de 17 anos da cidade de Münster. “Criamos uma geração mimada” A obrigatoriedade do serviço militar foi abolida na Alemanha em 2011 e, segundo especialistas, é inevitável que ela terá de ser reintroduzida se o país quiser se preparar para conflitos futuros. O psicólogo Rüdiger Maas, pesquisador especializado na chamada Geração Z (pessoas entre 15 e 30 anos), diz que os jovens que viveram este hiato de serviço militar opcional “nunca imaginaram que seriam submetidos a um serviço militar obrigatório”. “Eles cresceram em um mundo no qual nada era obrigatório para eles, exceto frequentar a escola. E de repente surge uma guerra à porta do país e esperam que eles defendam a nação com armas na mão”, disse Maas, em entrevista ao jornal Die Zeit, em outubro, quando do início do debate da nova legislação. Os estudos de seu instituto de pesquisas geracionais mostram que 81% dos jovens alemães não estão dispostos a morrer pelo país e 69% não defenderiam o país com armas. Esse número representa o dobro, por exemplo, dos jovens na Suíça. A explicação, para ele, seria justamente que no país vizinho o serviço obrigatório nunca foi suspenso: ”A consciência de que se deve defender militarmente o próprio país em caso de crise é muito mais forte entre os jovens suíços”. Maas vai mais longe em sua análise e vaticina: “Os jovens estão mimados. Mas quem os mimou? Nós, os mais velhos, temos grande responsabilidade nisso, com nossa superproteção”. Ele aponta outros exemplos anedóticos que apoiariam sua tese: o número de jovens que passam com a nota máxima no “ENEM alemão” disparou – o que denotaria uma menor exigência das escolas – e a decadência dos clubes esportivos, uma tradição alemã, em que jovens praticavam esportes de forma rígida, com horário marcado e frequência obrigatória. A nova geração está preferindo academias de ginástica flexíveis, em que eles fazem sua própria rotina. Jovens descontentes com o país Para outro pesquisador da juventude alemã, Simon Schnetzer, é preciso levar em consideração uma certa frustração da juventude atual: "Dizem que eles cresceram em um ambiente de prosperidade, mas também vemos que as coisas não estão indo bem no momento: problemas como as ferrovias, as políticas de previdência ou a inflação”, disse Schnetzer ao canal de TV público alemão ZDF. Para ele, esta seria uma geração duplamente penalizada: primeiro com a pandemia, que roubou um tempo precioso da juventude, e, agora, com uma exigência militar que pouco ou nada ouviu os jovens no processo legislativo. Influência da extrema direita Na última eleição parlamentar alemã, o partido de extrema direita AfD triplicou seus votos entre os jovens. Na votação da lei que instituiu o novo serviço militar, o partido retribuiu os votos e se posicionou francamente contra o projeto – que foi aprovado graças à maioria formada por CDU e SPD, a coalizão de centro-direita e centro-esquerda. Segundo Rüdiger Mass, a AfD alimenta um discurso pessimista entre os jovens sobre o ...
    Voir plus Voir moins
    5 min
  • Críticas crescem após acordo europeu para endurecer política migratória
    Dec 9 2025

    Pacote migratório europeu avança após consenso entre ministros e provoca críticas de organizações de direitos humanos. O novo conjunto de medidas representa uma guinada na política de imigração e asilo no bloco, a maior dos últimos anos. O objetivo declarado é reduzir a entrada irregular de migrantes e melhorar a cooperação entre os Estados-membros.

    Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas

    As novas regras foram inicialmente propostas pela Comissão Europeia e avançaram após meses de negociações entre os 27 países da UE. Em Bruxelas, os ministros do Interior chegaram a um consenso, mas o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu antes de entrar em vigor.

    O ponto mais emblemático do pacote é justamente a autorização para que migrantes irregulares sejam enviados a centros em países terceiros, algo sem precedentes em escala europeia. As medidas também endurecem punições para quem não cooperar com processos de retorno, incluindo a possibilidade de prisão. Outro elemento central é a criação de mecanismos que permitam a um país executar a decisão de deportação emitida por outro governo do bloco.

    Os ministros também aprovaram o chamado mecanismo de solidariedade para 2026, que busca apoiar os países que recebem maior volume de pedidos de asilo. Atualmente, um grupo de nove Estados-membros apoia o endurecimento das regras, entre eles Bélgica, Itália, Áustria, Polônia e Dinamarca. A Dinamarca ocupa a presidência rotativa do Conselho Europeu e desempenhou papel importante para acelerar o processo de adoção das normas.

    Os centros previstos fora da União Europeia poderão atuar como pontos de triagem ou como destino final para migrantes irregulares. Mas há forte resistência. A Anistia Internacional comparou as medidas à política migratória implementada pelo presidente Donald Trump nos Estados Unidos e classificou o sistema como cruel e inviável. Segundo a organização, transferir migrantes à força para países com os quais não têm qualquer vínculo pode violar o direito internacional.

    Críticas dos Estados Unidos

    Um outro tipo de crítica também veio dos Estados Unidos, que divulgou sua nova Estratégia de Segurança. Para a administração republicana de Trump, a política imigratória europeia é branda. O documento afirma que a Europa enfrenta declínio populacional e risco de um “apagamento civilizacional nos próximos 20 anos ou menos”.

    As declarações não foram bem recebidas em Bruxelas. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, rebateu as críticas e afirmou que a prioridade do continente deve ser adaptar suas alianças ao cenário geopolítico pós-Segunda Guerra. O governo alemão também rejeitou a avaliação feita pelos americanos.

    Fluxo migratório em queda

    Os números mais recentes mostram que a União Europeia registrou mais de 143 mil entradas irregulares até novembro de 2025. O total representa queda de 31% em relação ao ano anterior e de 48% em comparação com 2023. A redução é atribuída, em parte, às políticas mais rígidas adotadas internamente por alguns países.

    A Itália, por exemplo, já mantém um acordo com a Albânia para instalar centros de deportação. A Holanda também firmou uma parceria semelhante com Uganda. Mesmo com o recuo nos números, a pressão política, especialmente de governos de direita, aumenta para que o novo pacote migratório europeu seja implementado o mais rapidamente possível.

    Voir plus Voir moins
    6 min
  • Com show e presença de Trump, sorteio da Copa 2026 vai definir grupos em Washington
    Dec 5 2025
    Esta sexta-feira (5) marca o início oficial da contagem regressiva para a Copa do Mundo da FIFA de 2026. O pontapé simbólico será dado na capital norte-americana, Washington D.C., em um evento com clima de espetáculo, que mistura esporte e entretenimento, mas que, no fundo, traz um tom político. A cerimônia de sorteio dos grupos acontece no prestigiado John F. Kennedy Center for the Performing Arts - com várias estrelas - e representa o primeiro grande momento público do torneio, que pela primeira vez reunirá 48 seleções. Mas não é ‘só’ isso, haverá também um prêmio pela paz, uma espécie de Prêmio Nobel dado pela Federação Internacional de Futebol. Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles Esse sorteio vai definir quem joga contra quem na fase inicial e dá forma ao caminho de cada seleção rumo à taça. E o evento deste ano vai ser o maior da história, já que reunirá 48 seleções, divididas em 12 grupos de quatro equipes. Ao todo, serão 104 partidas; um aumento de 40 jogos em relação à Copa do Catar, realizada em 2022. O procedimento seguirá a lógica oficial: as seleções já classificadas (e os países-sede) serão divididas em potes, conforme ranking e regulamentos da FIFA. Depois, os nomes serão sorteados para definir quem vai a cada grupo. Apenas no sábado, a FIFA divulgará o calendário completo de sedes e horários dos 104 jogos. O sorteio não será um evento protocolar apenas: será uma superprodução de entretenimento, apostando em celebridades que misturam futebol, cultura pop e show business. Rio Ferdinand (ex-jogador inglês e ícone do futebol mundial) e a comentarista Samantha Johnson comandam a cerimônia. Já a supermodelo Heidi Klum e o comediante Kevin Hart serão os anfitriões do palco onde se apresentarão Andrea Bocelli, Robbie Williams e Village People, autores do hino "Y.M.C.A." que Trump adotou em sua campanha eleitoral. Também estarão presentes lendas de outros esportes como Tom Brady (futebol americano), Shaquille O'Neal (basquete), Wayne Gretzky (hóquei no gelo) e Aaron Judge (beisebol). Futebol e paz Mas, desta vez, o sorteio não será apenas sobre futebol. Pela primeira vez, a FIFA vai apresentar um novo prêmio durante a cerimônia: o “FIFA Peace Prize – Football Unites the World”. Esse é um prêmio criado pela FIFA para homenagear pessoas que atuam de forma extraordinária em prol da paz, que, segundo a Federação, promovem união, diálogo e harmonia pelo mundo. O primeiro vencedor será anunciado pelo presidente da FIFA, Gianni Infantino, durante o sorteio em Washington. Não foram divulgados ainda quem vota, critérios, processo de indicação. O que está sendo muito comentado nos Estados Unidos é a relação próxima de Trump e Infantino, que já se encontraram diversas vezes sempre com fotos sorridentes. Infantino parece ser um grande fã de Trump e foi um defensor declarado da candidatura do presidente norte-americano ao Prêmio Nobel da Paz, que acabou sendo concedido à líder da oposição venezuelana, María Corina Machado. Por isso há rumores de que Trump possa ser o primeiro vencedor do prêmio. Donald Trump tem capitalizado em cima da Copa, não só como um dos destaques do seu segundo mandato, mas como uma peça-chave das celebrações dos 250 anos da independência dos EUA, comemorada em 4 de julho do ano que vem, bem no meio da Copa do Mundo. Expectativas x imigração As expectativas para o sorteio em Washington estão altas, mas também tensas, principalmente pelo peso político que o evento ganhou nos Estados Unidos. O torneio, que deveria ser um momento puramente esportivo, acabou virando mais um palco para a administração reforçar sua retórica sobre controle de fronteiras, segurança nacional e projeção de força internacional. Trump apresenta o sorteio como uma vitória diplomática norte-americana e como símbolo da retomada do ‘prestígio global’ dos EUA, mesmo que às custas de conflitos geopolíticos gerados pela política de vistos. Esse evento é mais uma oportunidade que ele vai usar para defender que sua política externa é firme, coerente e capaz de “proteger o país”, com um discurso voltado ao público doméstico. A Copa de 2026 acontecerá em 16 cidades, sendo 11 nos Estados Unidos, duas canadenses e três mexicanas como sedes. O governo de Donald Trump é quem ficou responsável por coordenar a logística, segurança e, claro, os vistos necessários para receber torcedores estrangeiros. Tensão geral Organizações de direitos humanos (Human Rights Watch (HRW), Anistia Internacional e American Civil Liberties Union (ACLU) já denunciam que as políticas migratórias do governo podem gerar abusos contra torcedores, imigrantes e visitantes internacionais.Elas afirmam que há o risco de detenções arbitrárias, batidas do ICE (a polícia de imigração) em cidades-sede ou próximas, inclusive fora dos estádios, e uma atmosfera de medo entre comunidades de ...
    Voir plus Voir moins
    6 min
  • Visita de presidente alemão reforça avanço geopolítico e comercial entre Berlim e Londres
    Dec 4 2025
    O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, realiza a primeira visita oficial de um chefe de Estado alemão ao Reino Unido em 27 anos. Embora o cargo seja, em grande parte, cerimonial, a viagem tem como objetivo reforçar os laços comerciais e estratégicos entre os dois países – relações que voltam a se estreitar após a saída dos britânicos da União Europeia. Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim Em seu segundo dia de visita de Estado ao Reino Unido, o presidente alemão discursa nesta quinta-feira (4) no Parlamento britânico – uma rara honra para um chefe de Estado estrangeiro. A última vez que isso ocorreu foi durante a visita do presidente francês Emmanuel Macron a Londres, no início deste ano. Já o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não teve permissão para discursar no Parlamento britânico durante sua visita, que ocorreu em setembro. Na quarta-feira (3), ao desembarcar em Londres, Frank-Walter Steinmeier chegou com sua esposa pelo Aeroporto de Heathrow, a oeste da capital britânica. O casal foi recebido pelo príncipe e pela princesa de Gales, William e Catherine. De lá, seguiram de carruagem até o Castelo de Windsor, onde foram recebidos pelo rei Charles III e pela rainha Camilla, dando início oficial à visita de Estado. À tarde, o presidente alemão reuniu-se com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, em seu gabinete em Downing Street, participou de um fórum com líderes empresariais e, mais tarde, tomou parte em um banquete de Estado em Windsor. Guerra da Ucrânia A guerra na Ucrânia e a cooperação mais estreita em defesa entre os dois países estão entre os temas centrais da visita. Esses assuntos também foram tratados no encontro de ontem entre o presidente alemão e o primeiro-ministro britânico. Após a reunião, o gabinete de Starmer informou que “os líderes concordaram sobre a importância de continuar trabalhando juntos para alcançar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia”. Starmer também afirmou que as duas nações colaboram em questões de imigração, comércio e crescimento econômico, e que as relações estão se fortalecendo cada vez mais. Relação melhor desde o Brexit O presidente alemão concordou que os laços entre os dois países estão hoje em situação muito melhor do que nos anos difíceis após o plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, em 2016. Ao discursar em Londres, Steinmeier afirmou que Berlim quer “colocar nossa parceria em uma nova base”. Steinmeier era ministro do Exterior quando ocorreu o referendo do Brexit e, na época, não poupou críticas, chamando de “irresponsáveis” os políticos que fizeram campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia. As relações entre Londres e o bloco melhoraram sob o governo do primeiro-ministro conservador Rishi Sunak, tendência que continuou com seu sucessor trabalhista de centro-esquerda, Keir Starmer. Tratado de amizade A ida de Steinmeier ao Reino Unido retribui a visita do rei Charles à Alemanha em 2023, primeiro país que ele escolheu após se tornar rei. A viagem ocorre pouco depois de Londres e Berlim assinarem acordos de cooperação importantes. A visita de três dias acontece menos de quatro meses depois de Reino Unido e Alemanha assinarem um tratado que promete aprofundar a cooperação em várias áreas, em meio às ameaças representadas pela agressão russa na Ucrânia, à turbulência desencadeada pelo governo de Donald Trump e aos desafios mais amplos à democracia no mundo. Em outubro de 2024, os dois países da Europa Ocidental que mais investem em armamentos já haviam assinado um pacto de defesa, seguido pelo primeiro “tratado de amizade”, firmado em julho passado. O chamado Tratado de Kensington aguarda agora aprovação do Parlamento alemão. Trata-se de um acordo histórico de cooperação bilateral, o primeiro do tipo entre os dois países desde a Segunda Guerra Mundial. Ele estabelece compromissos de defesa mútua, cooperação militar e combate à imigração ilegal, além de prever acordos em áreas econômicas, climáticas, tecnológicas e promover intercâmbios culturais e educacionais. Steinmeier encerra sua estadia nesta sexta-feira com uma visita à Catedral de Coventry, a 153 km a noroeste de Londres. Ele prestará homenagem às vítimas do bombardeio nazista que atingiu a cidade em novembro de 1940, matando pelo menos 568 pessoas e destruindo ou danificando mais da metade das casas. Foi o ataque mais intenso contra uma cidade britânica durante a Segunda Guerra Mundial.
    Voir plus Voir moins
    5 min
  • Pedido de indulto de Netanyahu provoca choque político em Israel
    Dec 3 2025
    A equipe de defesa jurídica de Benjamin Netanyahu considera que o pedido de indulto para que o processo contra o primeiro-ministro seja encerrado é uma decisão certeira, mesmo sem saber qual será a posição final do presidente Isaac Herzog sobre o assunto. A avaliação em Israel é que o presidente deverá levar semanas até anunciar a decisão. O fato é que este assunto passou a dominar o debate político no país já bastante polarizado entre as forças de apoio e oposição ao premiê. Henry Galsky, correpondente da RFI em Israel Cabe ao presidente de Israel tomar a decisão de aceitar ou negar o pedido do chefe de governo. A imprensa israelense avalia que o processo deve levar semanas, e fontes próximas ao presidente consideram que pode haver uma negociação para encontrar uma saída. Aparentemente, Netanyahu sinalizou alguns caminhos no próprio pedido formal: “Conceder um indulto permitirá ao primeiro-ministro trabalhar para sanar a divisão do país e até mesmo lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e a mídia – questões que ele está atualmente impedido de abordar devido ao julgamento de seu caso”, escreveu o advogado de Netanyahu no documento de 111 páginas em que solicita o indulto. A chave para a compreensão do caso está em “lidar com questões adicionais, como o sistema jurídico e mídia”. A frase pode ser entendida como uma menção a duas das questões polêmicas recentes de Israel: o projeto de Reforma do Judiciário, o grande tema que mobilizava a sociedade antes dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023; e o projeto de lei para a regulamentação da mídia. Ambos os temas são pautas polêmicas colocadas na agenda do dia em Israel pela coalizão de Netanyahu. O primeiro-ministro parece sugerir estar disposto a negociar os dois assuntos. Segundo uma fonte próxima a Isaac Herzog citada pela imprensa local, as exigências presidenciais em troca deste "perdão" não seriam modestas: entre as possibilidades, a exigência de que Netanyahu se retire da vida política, encerrando, portanto, sua longa carreira; a antecipação de eleições gerais; a interrupção do projeto de Reforma do Judiciário; e, por fim, a criação de uma comissão de Estado – não de governo – para investigar as falhas internas em Israel antes e durante os ataques do Hamas de 7 de outubro. Sociedade: sem anistia A sociedade já se organiza em protestos em frente à casa do presidente Isaac Herzog, em Tel Aviv, com cartazes que dizem "não haver possibilidade de concessão de anistia a quem destruiu o país". Em relação aos atores políticos, Naftali Bennet, ex-primeiro-ministro e um dos favoritos nas pesquisas para as eleições do ano que vem, disse ser favorável a um acordo. “Nos últimos anos, Israel foi levado ao caos e à beira de uma guerra civil que ameaça a própria existência do país. Para sair do caos, apoiarei um acordo vinculativo que inclua uma aposentadoria respeitosa (de Netanyahu) da vida política, juntamente com a conclusão do julgamento. Dessa forma, poderemos deixar isso para trás e reconstruir o país juntos”. O atual líder da oposição Yair Lapid, que ocupou o cargo de primeiro-ministro por um período breve durante o chamado "governo da mudança" formado pela oposição em 2021, seguiu o mesmo caminho. Mas foi ainda mais duro com Netanyahu. "Não se pode conceder indulto sem que ele admita culpa, uma expressão de remorso e um afastamento imediato da vida política", disse. Vale lembrar que Netanyahu é julgado desde 2020 por acusações de suborno, fraude e quebra de confiança. Narrativa de extrema direita O primeiro-ministro tenta estabelecer uma narrativa de que o processo é um complô liderado pelo o que ele chama de "Estado profundo", uma referência a um termo que ganhou força nas redes sociais em todo o mundo e que é usado com frequência em especial por políticos da extrema direita. Na versão local, não apenas o premiê, mas também membros de sua coalizão de governo buscam colocar a responsabilidade por esse suposto complô na imprensa (considerada de esquerda pelos ministros de governo) e na Suprema Corte israelense. A estratégia do primeiro-ministro Segundo fontes citadas pelo Canal 12 de Israel, o círculo próximo a Netanyahu considera que a situação é positiva seja lá qual for o posicionamento do presidente de Israel, Isaac Herzog. A avaliação é que, se Herzog conceder o indulto, a situação estará resolvida com o fim das acusações e do julgamento. Já se Herzog pesar a mão numa eventual negociação com Netanyahu forçando-o, por exemplo, a confessar culpa, o plano é construir uma narrativa diferente: de que o presidente busca condenar o primeiro-ministro por um caminho fora dos meios judiciais. Se o presidente não conceder o indulto, essas fontes dizem que o plano é ir a público dizer que a "elite jurídica, inclusive Herzog, está mobilizada para condená-lo a todo ...
    Voir plus Voir moins
    6 min
  • Negociações de paz na Ucrânia: Europa busca influência diante de encontro em Moscou
    Dec 2 2025

    As negociações de paz entre Ucrânia e Rússia atingem uma nova fase nesta terça-feira (2), com o enviado especial de Donald Trump, Steve Witkoff, se reunindo em Moscou com o presidente Vladimir Putin para discutir ajustes na proposta apresentada por Washington. Witkoff será acompanhado por Jared Kushner, conselheiro e genro do presidente americano.

    Artur Capuani, correspondente da RFI em Bruxelas

    O encontro acontece após duas rodadas de negociações entre Estados Unidos e Ucrânia na Flórida, nas quais os ucranianos buscaram revisar um plano inicialmente visto como favorável à Rússia. O documento previa limitações ao tamanho do Exército ucraniano e a perda de territórios ocupados, medidas consideradas inaceitáveis por Kiev.

    Nesse contexto pró-Moscou, a União Europeia se articula para não ser escanteada na discussão. Ontem, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, esteve em Paris, onde foi recebido pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Eles participaram de videoconferência com líderes de países como Reino Unido, Alemanha, Itália, Polônia e representantes da cúpula da União Europeia. Também conversaram por vídeo com o negociador ucraniano, Rustem Umerov, e Steve Witkoff.

    Em Bruxelas, os ministros da Defesa do bloco se reuniram para tentar chegar a um consenso sobre como seguir com o apoio financeiro a Kiev, incluindo a possibilidade de cooperação industrial militar e financiamento privado por meio do Banco Europeu de Investimento.

    A reunião em Moscou é determinante. Kiev se vê enfraquecida em meio a uma crise política, perdas no front de batalha e um duro inverno à vista, além da hesitação de Bruxelas em relação ao suporte financeiro. Agora é Moscou que terá de reagir às alterações discutidas na proposta de paz, o que deve definir o rumo das próximas semanas. A Casa Branca disse estar otimista quanto à possibilidade de um acordo para pôr fim à guerra, embora experiências anteriores mostrem que o caminho ainda é incerto.

    A situação interna da Ucrânia adiciona complexidade às negociações. O país enfrenta seu maior escândalo de corrupção desde o início da guerra, com a demissão do chefe de gabinete de Zelensky, que liderava a equipe de negociações, a demissão de dois ministros e a investigação de um ex-sócio do presidente. Ao mesmo tempo, a Rússia mantém a pressão militar com avanços territoriais e sucessivos ataques à infraestrutura energética, deixando milhares de ucranianos sem aquecimento.

    Situação confusa em Pokrovsk

    A Rússia reivindicou nesta segunda-feira (1º) a tomada de Pokrovsk, um importante centro logístico do leste da Ucrânia, e da localidade de Vovchansk, no nordeste. Pokrovsk é uma posição estratégica, já que está na encruzilhada de várias estradas e linhas férreas que levam aos últimos bastiões das tropas ucranianas no front oriental.

    Nesta terça, o exército ucraniano declarou, no entanto, que ainda controla a parte norte da cidade, apesar da declaração de vitória de Putin.

    Europa avalia uso de ativos russos congelados

    Um dos temas mais sensíveis é o uso dos ativos russos congelados na Europa. Dos € 300 bilhões congelados, € 185 bilhões estão na Bélgica, sob custódia do Euroclear. A União Europeia debate a melhor forma de utilizar esses recursos sem ceder controle total aos Estados Unidos.

    A pesquisadora Jana Kobzova, do think tank Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR), destaca a importância desse ponto: “A Europa pode influenciar de forma significativa o acordo de paz se agir rapidamente nesse tema. Merz e outros devem intermediar um acordo e superar as preocupações da Bélgica. Eles deveriam vincular essa ação a um escrutínio rigoroso das dimensões comerciais da proposta entre Estados Unidos e Rússia, insistindo que as sociedades europeias aceitariam o uso de ativos russos localizados na Europa para estabilizar a Ucrânia e/ou compensar os gastos europeus com a defesa do país.”

    Bruxelas ainda não decidiu a forma final de utilização desses ativos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que houve avanços e que uma proposta concreta deve ser apresentada ainda nesta semana.

    Voir plus Voir moins
    6 min