Portuguese Classic Literature

Em "A insigne Cornélia", o narrador recorta mais um dia sofrido na vida da protagonista, que enfrenta o marido estúpido, o filho ausente e a filha cadeirante, desconfiada de nova gravidez. No curto conto "O lírico Lamartine", Alcântara Machado trata com humor da ascensão da carreira do magistrado Lamartine, pretenso poeta, paralela ao aumento de peso de sua esposa.

"Entre Santos", de Machado de Assis, é daqueles contos se se lê com um sorriso estampado no rosto. Nele, o autor propõe como enredo um diálogo entre santos, que discutem a crença nos homens – numa clara inversão de papéis, já que não são os homens a debater a crença nos santos. Religião, transcendência e psicanálise são temas para reflexão a partir de sua leitura.

Não se engane o leitor com o título: a "Cigana" é uma cadela valente! O enredo deste conto traz justamente a sua história, bem como a de seus donos, o capitão Navarro, recém-chegado do Rio de Janeiro ao Norte de Portugal, e sua filha Luísa. A Cigana salvou um do afogamento, a outra de uma desgraça.

Com toda a cor das coxilhas do Rio Grande ao Sul, narra-se nesse conto a tragédia de Maria Altina, vítima do desejo desmedido do terrível Chicão. O narrador-personagem traz o leitor para a beira do manantial, onde parte expressiva do enredo se passa, para ver a roseira que no meio dele floresce, misteriosamente.

Nesse emocionante conto de Mário de Andrade, o narrador recorta um momento singular de sua infância, quando lhe cortaram os preciosos cachos dos cabelos de que ele tanto gostava. O cenário é a cidade Santos, onde ele passava férias. E o enredo se concentra num presente que ele ganha: estrelas-do-mar, que lhe trariam boa sorte. Dias depois... é ler o conto!

Dois contos de Simões Lopes Neto em torno da Guerra dos Farrapos, com a vivacidade gauchesca característica do autor. Em "O duelo de Farrapos", o narrador é o ordenança de Bento Gonçalves e relata um duelo entre este e o Coronel Onofre. Em "O Anjo da Vitória", o narrador lembra da infância com o padrinho, militar que lutou ao lado do general José de Abreu, o "Anjo da Vitória".

Dois contos extraídos do livro "Laranja-da-China". Na melhor técnica do conto – um recorte de uma história em andamento, sem necessariamente começo, meio e fim – Alcântara Machado explora, em "O filósofo Platão", o ritmo de vida metódico do personagem Platão, enquanto em "O inteligente Cícero" o menino Cícero se vê às turras com São Nicolau em sucessivos natais.

Joaninha, protagonista deste conto de Raul Pompeia, é uma jovem órfã que vive com o pai, quase sempre bêbado e agressivo. Dois estudantes com muto más intenções observam aquela condição e, na primeira oportunidade, selam o destino da moça. "A mona do sapateiro" é exemplo da mestria do autor, apresentando toda a força do Movimento Realista.

Extraídos do livro "Contos da Aldeia", estas duas narrativas fazem um retrato fiel do português campesino em seu melhor. Em "O abandono do moinho", o autor conta a história de Teresinha, filha do moleiro, que deixa um dia o moinho para levar farinha à morgada e é seguida pelo pai. Em "O jantar de Natal", esperança e alegria são enaltecidas com o enredo em torno do velhote tio Simão e seu cãozinho Fiel.

"Morro odiando a humanidade" – as últimas palavras de Frei Simão de Santa Águeda, em seu leito de morte, explicam-se ao longo da narrativa: a triste história de como o religioso, antes de o ser, fora apaixonado pela pobre órfã Helena, e de como seus pais impediram a consagração de seu amor.

No conto de nome tão particular, "Melancia – Coco Verde", logo de início se esclarece sua razão de ser: apelidos, respectivamente, para "Sia Talara" e o cadete "Costinha", namorados que se amam, mas precisam enfrentar um primo pretendente que quer a mão da moça.

Os três contos da pouco conhecida escritora catarinense Delminda Silveira têm em comum a inspiração nas novelas de cavalaria. Em "A sina", o mote é a "buena dicha" que prevê o futuro do fidalgo "Roland". Em "Almas gêmeas", o leitor é levado ao Oriente Médio, onde conhece os anseios de Aida e Admar. Por fim, "O proscrito" tempera sua trama com a melancolia do exílio.

A loucura é o substrato predominante no conto "O regresso do filho", de Florbela Espanca. Extraído do livro "O dominó preto", nele, o personagem Gabriel parece encontrar nesse estado alterado de espírito uma forma de concretizar o sonho da plenitude: um modo singular de fugir ao destino.

No conto "O mártir Jesus", o narrador retrata o desalento de Crispiniano diante da necessidade de atender aos diferentes anseios da família no Carnaval, num cenário que percorre várias ruas da São Paulo da década de 1920. Já em "O aventureiro Ulisses", a dicotomia campo/cidade, Sorocaba/São Paulo, é personificada no fugitivo Ulisses.

No conto "A batalha dos livros", não é sem razão que o protagonista se chama Aristóteles: assim como o filósofo grego, o personagem, que é também um sábio, depara-se com a incapacidade de classificar o conhecimento, o que o atormenta. Trancado sozinho em sua biblioteca, sem admitir sequer a companhia do sobrinho Sancho, ele padece de sua condição.

Em "O galo preto", o leitor encontra o antigo universo das palmatórias em sala de aula. Conta-se nele como um abade descobre o ladrão de lápis de uma sala de aula. Já em "A volta das andorinhas", Alberto Braga mistura fábula e conto para apresentar o encontro do narrador com uma viscondessa minhota, que coincide com o retorno das andorinhas na primavera.

Conto de matiz realista, "Curiosa..." (assim, com reticências) faz um recorte em um dia especial na vida de "Cocota", mulher do aborrecido Bernardo, em que ela recebe uma carta apaixonada do antigo namorado Braga, que deseja reencontrá-la... e recebe também a visita inconveniente das Travassos – mãe e duas filhas. Carta e visita intermediadas pela suspeita criada Brígida.

O que em princípio pode soar como uma história para crianças, se revela, ao melhor estilo de Fialho, uma crítica à alta sociedade portuguesa do século XIX, tema recorrente em sua obra. Mas "para crianças"? Sim! Os patifes são dois gatos. Mimados e inconsequentes. E protegidos e impunes. Uma metáfora brilhantemente explorada pelo autor.

Como o título bem indica, o enredo desse conto do português Alberto Braga gira em torno do retrato que um casal deve fazer a pedido do filho que imigrou para o Brasil. Motivo de alegria? O leitor descobrirá que não: preconceito e ingratidão tecem a trama, desde a chegada da carta com o pedido do retrato, que atravessou o Atlântico e chegou à aldeia do Minho.

Leonor é apaixonada pelo primo Maurício. Desde que voltou com a mãe Cecília do Brasil para Portugal, vê crescer esse amor, mas, para com ele casar, ele tem que adquirir conhecimentos, se formar. Maurício desaparece quando fica sabendo dessa condição. Passam-se quatro anos e Maurício volta – de Paris – , quase formado em engenharia. O destino, então, despenca sobre o casal.